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A MAIOR OPERAÇÃO MILITAR DO ULTRAMAR PORTUGUÊS


CRONOLOGIA DA OPERAÇÃO N´GÓRDIO

A situação em Cabo Delgado, em finais de 1969, era de acentuada pressão sobre os aquartelamentos militares portugueses, com a minagem dos itinerários e ataques às colunas tácticas e logísticas, tentando a Frelimo expandir as suas acções para sul do rio Messalo. Espalhava-se a ideia de que o Planalto Central era zona inacessível às tropas portuguesas depois de, no final desse ano, unidades de pára-quedistas e comandos não terem conseguido alcançar as grandes bases da guerrilha - Gungunhana e Moçambique. Em Dezembro, dois terços das acções da Frelimo estavam concentrados em Cabo Delgado, servindo o triângulo serra do Mapé-Macomia-Chai como apoio dos guerrilheiros, no seu avanço para sul. No primeiro trimestre de 1970, verificou-se a intensificação da guerra, com a Frelimo a ultrapassar o rio Messalo, em direcção ao rio Lúrio, e a confirmação de acções em Tete/Cahora Bassa. A actividade da guerrilha aumentou mais de 40 por cento, continuando a caber a maior percentagem ao emprego de minas. A Frelimo demonstrava um maior interesse pelo sector de Tete, onde se instalavam os grandes empreendimentos económicos de Cahora Bassa. O contínuo agravamento da situação militar e a impossibilidade de aumentar o esforço de guerra, quer em efectivos metropolitanos quer em material de combate, levaram o general Kaúlza de Arriaga, ainda como comandante do Exército, a intensificar a formação de unidades de recrutamento local, que utilizaria intensamente como comandante-chefe. Nos finais de 1969, foi criado o Batalhão de Comandos e formada a 1.ª Companhia de Comandos de Moçambique. Logo em Janeiro de 1970, a Região Militar anunciou a formação dos primeiros seis grupos especiais (GE) de milícias, com o total de quinhentos e cinquenta homens. Em Abril de 1970, foi referenciada a presença de Samora Machel em Cabo Delgado, para apresentar os planos de uma grande ofensiva a executar em Junho e Julho. Esta visita fez aumentar a actividade militar da Frelimo a nível nunca igualado. De facto, enquanto no segundo trimestre de 1969 o movimento realizou 154 acções, das quais 98 foram minas, no primeiro trimestre de 1970 essas acções subiram para 685 (646 eram minas) e no segundo para 759 (652 eram minas). Com este cenário por pano de fundo, o general Kaúlza de Arriaga, já comandante-chefe, decide lançar a Operação Nó Górdio, atribuindo a sua execução ao Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI), criado em Novembro de 1969 para o emprego conjunto de forças do Exército, Marinha e Força Aérea em missões de grande envergadura, em situações de emergência e em operações especiais. A preparação pode dizer-se que foi iniciada com a primeira experiência do COFI, em Maio de 1970, na condução de uma operação ao longo da estrada Mueda-Mocímboa da Praia, envolvendo unidades de comandos, pára-quedistas e fuzileiros, apoiadas por artilharia e aviação, a qual serviu de treino ao estado-maior do COFI e permitiu aliviar a pressão sobre um itinerário fundamental para o apoio logístico à grande operação que se preparava. Entretanto, desde a tomada de posse do general Kaúlza de Arriaga que o seu Quartel-General em Nampula trabalhava nos preparativos que iriam concretizar o seu conceito de manobra em acções de contraguerrilha: executar operações de grande envergadura sobre objectivos materializados no terreno, com o máximo de forças. Para tal, processou-se intensa acção de reparação e reunião de materiais, sobretudo artilharia e auto-metralhadoras; transferiram-se depósitos de munições, combustíveis e víveres para o Norte; prolongou-se a pista de Mueda, de modo a nela poderem operar aviões Fiat G-91, e a de Nangololo, para receber Nord-Atlas de transporte; deslocaram-se efectivos do Sul para o Norte, incluindo algumas unidades em fim de comissão; receberam-se novos materiais, especialmente alguns detectores de minas e rádios; e preparou-se, finalmente, um plano de acção psicológica destinado às populações e forças portuguesas. A maioria destes meios foi reunido em Mueda, que se transformou em enorme base de operações. O início da Operação Nó Górdio foi marcado para 1 de Julho de 1970, com a presença do general Comandante-Chefe e do seu Estado-Maior em Mueda, prolongando-se até 6 de Agosto. Nela participaram mais de oito mil homens, que representavam cerca de 40 por cento dos efectivos das tropas de combate no território (vinte e dois mil), uma concentração que esgotou as reservas disponíveis, pois empenhou a totalidade das unidades de forças especiais (comandos, pára-quedistas e fuzileiros) e os grupos especiais (GE), recém-criados, mais a quase totalidade da artilharia de campanha, unidades de reconhecimento e de engenharia. O conceito da operação assentava num cerco e batida com grandes meios, prevendo o isolamento da área do núcleo central do Planalto dos Macondes, onde se encontravam as grandes bases Gungunhana, Moçambique e Nampula, através de um cerco ao longo dos itinerários Mueda-Sagal-Muidumbe-Nangolo-Miteda-Mueda, com a extensão de 140 quilómetros e, após conseguido o isolamento da área, o assalto e destruição dos principais objectivos do núcleo central: objectivo A - base de artilharia Gungunhana; objectivo B - base provincial Moçambique; objectivo C - base Nampula. A manobra seria apoiada no terreno com fogos de artilharia e de aviação, em acções de flagelação e de concentração sobre os objectivos. Para criar condições de aproximação a estes e actuar sobre eles, seriam organizados agrupamentos de forças para procederem à abertura simultânea de picadas em direcção aos objectivos A e B, o mesmo sucedendo posteriormente para atingir o objectivo C, e, por fim, previa-se manter o cerco e continuar a bater e a eliminar todas as organizações referenciadas ou a referenciar. As acções militares deveriam ser conjugadas com intensa campanha de acção psicológica, para provocar a rendição e a desmoralização do inimigo. Os agrupamentos de cerco seriam constituídos por unidades de caçadores e por unidades de reconhecimento, realizando as primeiras emboscadas em permanência, enquanto as segundas patrulhariam os itinerários. Os agrupamentos de assalto disporiam de uma composição inter armas, do tipo task force, incluindo unidades de forças especiais, forças regulares, de apoio de fogos (artilharia e morteiros) e de engenharia. A esta cabia papel de grande sacrifício e risco na abertura das picadas tácticas desde as estradas Mueda-Miteda e Miteda-Nangololo até à proximidade dos objectivos, onde seriam criadas as bases de ataque para as forças de assalto. A operação era concebida como manobra do tipo convencional, em que se pretendia alcançar com um ataque em força o que do antecedente não fora conseguido, empregando a surpresa.

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