HOMENAGEM ÀS TROPAS COMANDOS DE PORTUGAL
ANTECEDENTES E CONSIDERANDOS
DE NÓQUI A ZEMBA — A GÉNESE
Nos finais da década de 55 e na sequência do processo de Independência em curso em quase
todas as colónias europeias em África, também em Portugal surgiu entre os responsáveis pelas
F.A. a ideia de preparar tropas, dotadas de treino e de conhecimentos capazes de fazer frente
a um eventual surto de subversão que pudesse vir a acontecer nos nossos territórios
ultramarinos.
De entre algumas iniciativas conhecidas, há a registar o envio à Argélia de um grupo de
Oficiais, a fim de tomarem contacto directo com as tropas especiais Francesas ali estacionadas
e ainda um ciclo de palestras sobre a guerra subversiva e contra subversão conduzidas por
alguns Oficiais Franceses, que para o efeito se deslocaram a Portugal.
Como resultante directa destas iniciativas e do espírito subjacente a que elas conduziram, está
a criação do C.I.O.E. (Centro de Instrução de Operações Especiais) em Lamego, responsável
pela formação de Companhias de Caçadores Especiais, com uma missão fundamentalmente
virada para uma acção dissuasória e psicológica junto das populações, algumas das quais já
se encontravam em Angola quando do eclodir do movimento de guerrilha em 04 de Fevereiro
de 1961.
Embora se tivesse procedido a uma remodelação dos métodos de instrução das nossas tropas,
cedo se tornou evidente a insuficiência dessa preparação pois que as características do
terreno, do clima e da própria guerra subversiva exigiam dos nossos militares uma actuação
completamente diferente, para a qual não estavam minimamente preparados e que. só
baseada numa bem estruturada preparação moral e técnica, aliada a uma grande mobilidade,
poderia surtir efeitos.
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Todos estes atributos eram consentâneos com a ideia da formação de grupos Especiais já
então latente, e que se veio a concretizar com uma primeira experiência feita na Região Militar
de Angola — em Nóqui. Assim, e graças ao grande interesse depositado pelo então
Comandante do Batalhão de Caçadores nº280, Tenente-Coronel Almeida Nave, e ainda aos
conhecimentos transmitidos por um jornalista italo-fracês — Cesare Dante Vachi —
conhecedor das guerras da Indochina e Argélia, foram dois grupos do Batalhão 280 treinados
em moldes completamente diferentes e inovadores, cujos excelentes resultados por certo
contribuíram e pesaram na decisão do General Venâncio Deslandes para a criação do Centro
de Instrução nº21, destinado à preparação de grupos especiais, especialmente vocacionados
para a luta antiguerrilha.
O C.l.21 ficou instalado em Zemba, Sector F da Zona de Intervenção Norte, tendo sido
nomeado seu Comandante o então Capitão de Infantaria Jasmins de Freitas, coadjuvado por
Cesare Dante Vachi. A equipa de instrução era constituída pêlos então Capitães Ramalho e
Marquilhas, Tenente Caçorino Dias, os Alferes Vasco Ramires, Raúl Folques, César
Rodrigues, Vieira Pereira e os Alferes médicos Resina Rodrigues e Freire Águalusa.
Depois de uma dura instrução, caracterizada pela utilização permanente de meios reais, do
contacto directo e constante com o meio natural e o próprio IN, terminaram o curso em 30 de
Novembro de 1962, os seis primeiros Grupos de Comandos oriundos dos Batalhões e três
Grupos da Companhia de Caçadores Especiais nº.365, regressaram então às suas Unidades
de origem, e em cuja área de actuação tomaram parte em diversas operações, quer
independentemente, quer neles integrados.
Estes grupos adoptaram designações próprias e, organicamente eram constituídos por 25
homens e divididos em 5 equipas.
Designação
Origem
Comandante de Grupo
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Os Fantasmas
Bat. Caç. 317
Alf. Mil. Abreu Cardoso
Vampiros
Bat. Caç. 185
Alf. Mil. José M. Lousada
Aço
Bat. Caç. 186
2º Sarg. Inácio Maria
Pedra
Bat. Caç. 261
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Alf. César Rodrigues
Nóqui A
Bat. Caç. 280
Alf. Mil. Vieira Pereira
Falcões
Bat. Caç. 325
Alf. Mil. Agostinho Gonçalves
Corsários A
CCAÇ. ESP. 365
Alf. Mil. Rodrigues dos Santos
Corsários B
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CCAÇ. ESP. 365
Alf. Mil. Vaz Pardal
De referir alguns aspectos fundamentais que passaram a constituir a metodologia posta na
preparação dos Comandos, como sejam, o uso permanente de meios reais, a preparação
psicológica do combatente com o recurso a mensagens e gravações em fita magnética («Voz
do Comando»), e ainda o contacto directo com o inimigo como parte integrante da instrução,
pois que só durante o curso ministrado no C.l.21 foram realizadas cerca de 10 operações.
A mobilidade, a rapidez e a entrada em acção imediata sobre o objectivo foram também aqui
ensaiados quando pela primeira vez se procedeu a operações heli-transportadas.
Todo o pessoal que frequentou o Curso com aproveitamento recebeu o emblema COMANDO
em pano bordado, com a divisa "AUDACES FORTUNA JUVAT" e o cartão COMANDO, emitido
pelo Quartel General da Região Militar de Angola.
C.l. 16
A experiência e os resultados obtidos a partir do C.l.21 tornaram o processo de formação de
Comandos num factor irreversível. Assim, em 09 de Junho de 1963 e por despacho de 15 de
Maio do mesmo ano, é inaugurado o Centro de Instrução nº16 ocupando as instalações do
Quartel de Quibala na Fazenda Senhora da Hora, em Quibala Norte, onde pela primeira vez a
designação «COMANDOS» assume carácter oficial sendo o curso aqui ministrado,
reconhecido como o primeiro Curso de Comandos.
Sobre a formação do C.l.16 aqui se transcreve parte do conteúdo da nota 169/3 de 06 de Maio
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de 1963 da 3.3 REP/EME, que diz o seguinte:
· É reorganizado o Centro de Instrução nº21, com a finalidade de ministrar instrução
intensiva de contra guerrilha a grupos de combate dos Batalhões. Pretende-se que cada
Batalhão disponha, assim, de um núcleo devidamente especializado, aguerrido e moralizado
que, simultaneamente seja um elemento de valor táctico elevado para ser empregue em
missões de combate difíceis, perigosas ou de grande interesse operacional, constitua um
estímulo pelo seu exemplo e, pela difusão dos conhecimentos adquiridos, contribua para uma
melhoria do nível de instrução e da eficiência operacional da própria Unidade.
O C.l.16 era comandado pelo Major de Infantaria Antunes de Sá, tendo como 2ºComandante o
Capitão de ArtªSantos e Castro, e tinha como instrutores o Capitão de Artª Ribeiro de Oliveira,
o Tenente Mil. Alves Cardoso, o Tenentes Mil. Cmd. Vieira Pereira e Abreu Cardoso, o Tenente
Mil. Médico Cmd. Resina Rodrigues, o Alferes Mil. Cav. Gomes de Freitas e o Alferes QSGE
João Silva, que era também o único encarregado pêlos serviços administrativos.
Em 10 de Outubro de 1963 foi dada por concluída a instrução, tendo-se constituídos os seis
grupos a seguir enunciados e que posteriormente regressaram às suas Unidades de origem:
Designação
Origem
Comandante de Grupo
Os Sem Pavor
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Bat. Caç. 379
Alf. Mil. Eduardo R. Silva
Os Destemidos
Bat. Caç. 380
Alf. Mil. Martiniano Quesada
Os Apaches
Bat. Caç. 442
Alf. Mil. José Z. G. Robalo
Os Gatos
Bat. Art. 400
Alf. Mil. Horácio M. Valente
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Os Tigres
Bat. Cav. 339
Alf. Mil. Júlio Damas Paiva
Os Escorpiões
Bat. Cav. 437
Alf. Mil. Manuel L. Bogalho
Além do pessoal que constituía os grupos atrás referidos, frequentaram também o C.l.16 um
grupo de militares vindo da Região Militar de Moçambique, que tendo terminado a instrução
com aproveitamento para lá regressaram a fim de dar início à formação de novos Comandos
nessa Região Militar.
O C.l.16 foi oficialmente desactivado a 04 de Dezembro de 1963, sucedendo-lhe o Centro de
Instrução nº25.
De entre as acções de carácter iminentemente operacional levadas a cabo pelo C.l.16, de
salientar a actuação na operação «Pérola Verde». O espírito que desde o início sempre
presidiu à formação das tropas «COMANDO», é bem patente na passagem que a seguir se
transcreve da supra citada nota nº169/3 da 3.3 REP/EME:
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· «O pessoal não usufruirá de quaisquer regalias ou gratificação especial. Será
submetido a uma vida dura e disciplina rígida e o que terminar a instrução com aproveitamento
terá direito à designação «COMANDOS» e ao uso de um distintivo próprio».
C.l. 25
Pela circular nº4705, processo 347.7 de 03 de Dezembro de 1963, foi feito convite aos Oficiais.
Sargentos e Praças que desejassem frequentar o novo Curso de Comandos a realizar no
Centro de Instrução n.º 25 localizado, tal como o C.l.16 na Quibala Norte.
Seguindo-se ainda os mesmos processos do anterior curso, pretendia-se recrutar pessoal
voluntário e já com uma relativa experiência de combate, de forma a que se formassem novos
Grupos de Comandos, e que tal como os anteriores iriam actuar na zona de acção dos seus
Batalhões de origem.
Pela primeira vez se tornou possível proceder a uma prévia selecção de pessoal candidato à
frequência do curso, tendo para o efeito, este mesmo pessoal sido apresentado no Regimento
de Infantaria nº20 onde de 15 a 19 de Janeiro de 1964, foi submetido a provas de selecção que
incluíam exames clínicos e provas físicas. Os candidatos que conseguiram ultrapassar esta
primeira barreira das selecções, seguiram para Quibala Norte, onde a 03 de Fevereiro de 1964
se deu início ao novo Curso de Comandos.
O C.I.25, comandado pelo Capitão de Artilharia «COMANDO» Gilberto Santos e Castro, teve
como instrutores os seguintes Oficiais:
· Capitão «CMD» Ribeiro de Oliveira
· Capitão «CMD» Leal de Almeida