Dr. Jonas Savimbi Uma vida por Angola e pelos Angolanos
Jonas Savimbi - Uma vida por Angola e pelos angolanos - Alcides Sakala - Club-K Angola
Luanda - Excelência, senhor Presidente da UNITA; Excelência, senhor Vice Presidente; Excelência, senhor Secretário Geral; Ilustres Membros do Comité Permanente e da Comissão Política; Excelentíssimos Senhores Deputados; Representantes da Sociedade Civil e das Igrejas; Membros, Militantes e simpatizantes do Partido; Prezados Convidados; Senhoras e Senhores.
Fonte: Unitaangola
Queria em primeiro lugar agradecer o convite que foi formulado pelo Dr. Álvaro Chikwamanga, na qualidade de Secretário Provincial da UNITA em Luanda, para falar do pensamento diplomático do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, um tema de grande actualidade na história contemporânea de África, de Angola e da UNITA em particular. Esta conferencia tem, de facto, uma importância muito particular.
Encerra o ciclo de debates, de reflexões e colóquios que se realizaram aos longos dos últimos 15 dias em todo o país para celebrar a data natalícia do Dr. Savimbi. Nascimento ocorrido a 3 de Agosto de 1934, na província do Bié, na localidade de Munhango, uma vila situada ao longo do Caminho de Ferro de Benguela. O ponto mais alto destas celebrações foi o grandioso acto de massas que ocorreu na cidade do Kuito-Bié, no dia de 8 Agosto de 2015, presidido pelo Presidente do Partido, Dr. Samakuva, que falou, mais uma vez, para milhares de angolanos que quiseram ouvir a sua mensagem da mudança.
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Senhoras e senhores Prezados convidados
Na história dos povos e por força de circunstâncias politicas, económicas, sociais e culturais, surge sempre e em cada século, um homem com vontade política suficiente, com coragem e ímpeto intelectual para moldar a sociedade à sua visão e mudar o rumo dos acontecimentos para beneficio das classes mais oprimidas e para o bem estar de todos.
Este homem, na contemporaneidade angolana é o Dr. Savimbi. Uma figura incontornável da história de Angola e da África em geral que viverá para sempre nos anais da história de Angola. Gostando dele como não. Falecido em combate em 2002, o Dr. Savimbi continua presente na memória colectiva de todos dos angolanos.
Para analisarmos o pensamento diplomático do Dr. Savimbi, no contexto da sua visão estratégica, no âmbito da importância das relações internacionais, podemos partir de três níveis de analise: (1) o Dr. Savimbi como jovem revolucionário e intelectual que fez os seus estudos superiores na Europa; (2) como teórico das lutas de libertação nacional dos povos de África contra o colonialismo, no quadro das doutrinas do pan-africanismo; (3) e, dos anos 70 até a sua morte, como líder promotor da democracia em Angola, bem como do movimento internacional de resistência popular generalizada contra o imperialismo russo e cubano.
Na base destes três níveis de análise, deve-se sublinhar que o Dr. Savimbi, no apogeu da sua juventude, na década dos anos 50 e 60, viveu num ambiente diplomático de grandes mudanças mundiais que influenciaram o seu pensamento em matéria de política de relações internacionais. Nessa época, o Dr. Savimbi, como jovem intelectual, atento aos sinais da história, testemunhou o fim da segunda guerra mundial, a criação das Nações Unidas e da actual União Europeia, a realização da conferencia de Bandung que decidiu pela criação do movimento dos não-alinhados, bem como a emergência das lutas de libertação nacional em África que conduziram as primeiras independências no nosso continente, como foi a independência do Gana em 1957.
Foi neste ambiente político internacional que o Dr. Savimbi testemunhou a afirmação dos grande líderes africanos como Kwame Nkruma, Ahmed Sekou Touré, Ben Bella, Jomo Kenyata, Oginga Odinga, Leopold Sedar Senghor, Julius Nyerere, Félix Houphouet-Boingy e Keneth Kaunda, para citar apenas estes, com os quais, mais tarde, partilhou importantes reflexões.
É também neste ambiente e nesse período de importantes mudanças politicas no plano internacional que se realizou o V Congresso Pan Africano em 1945, em Manchester, na Inglaterra, que juntou importantes líderes africanos, entre estes Kwame Nkruma que foi um dos maiores propulsores do panafricanismo em África.
Este Congresso Consolidou o movimento pan-africano e definiu uma doutrina revolucionaria com o objectivo de levar os povos colonizados da África a lutar pela independência nacional, através da luta política e da luta armada, sobretudo, tendo como base, a organização das massas, a organização do povo. Nessa altura, a perspicácia e o desempenho da acção diplomática do Dr. Savimbi já se fazia notar, reconhecido pelos grandes líderes africanos da época.
Influenciado, deste modo, pelo ambiente da política internacional, sustentado em África pelas grandes teses, doutrinas e teorias do pan-africanismo, levaram o Dr. Savimbi, aos 25 de Maio de 1963, a participar na criação da OUA, Organização da Unidade Africana e, em seguida, foi indicado para dinamizar o Comité de Libertação desta organização continental, que integrava representantes de todos os movimentos de libertação de África, para o incentivo da luta de libertação nacional. Nesta capacidade, o Dr. Savimbi trabalhou ao lado de Kenneth Kaunda, que viria a ser o primeiro Presidente da Zâmbia, com Joshua Nkomo que mais tarde foi chamado o pai da independência do Zimbabwe e com Luís Cabral que foi o primeiro Presidente da Guiné Bissau.
Prezados convidados
Depois desta breve incursão, podemos considerar o Dr. Savimbi como um líder racional, realista no processo de tomada de decisão em matéria de relações internacionais. Os que conheceram de perto, e muitos estão em ainda em vida, sabem que soube sempre identificar o interesse nacional; identificar as melhores opções e, em seguida, escolher politicas que melhor servissem o interesse nacional.
Vamos, no entanto, recuar um pouco no tempo, deixar o período da fundação da OUA, para dizer que em 1961, o Dr. Savimbi, inconformado com a situação política, económica e social do país, no contexto da realidade colonial, vigente em Angola, decidiu ingressar na UPA, na União dos Povos de Angola, onde foi nomeado Secretário Geral dessa organização política. Disse na altura, e cito, que a “ minha decisão de aderir a UPA fez-se a partir da convicção pessoal de que era impossível conseguir um dialogo com o governo português que levasse a solução do conflito que opunha o povo angolano ao regime colonial.”
Já nessa altura, pelo realismo da sua visão diplomática, o Dr. Savimbi tinha compreendido que a “ diplomacia era um factor importante na resolução dos problemas trazidos pelo colonialismo e que deveria ser un instrumento de apoio para a luta de libertação travada no interior do país.”
Em 1962 conseguiu convencer os dirigentes do PDA, partido democrático angolano, e da UPA a uma fusão de que resultou a FNLA, Frente Nacional de Libertação de Angola. Com esta sua sua influencia, ajudou a criar governo revolucionário no exílio, GRAE, que surgiu como primeiro instrumento político e jurídico de luta contra o colonialismo português em Angola, tendo o Dr. Savimbi desempenhado funções de Ministro dos Negócios Estrangeiros desse governo revolucionário o que acelerou, fruto da sua influência diplomática, o reconhecimento do GRAE pelas instituições regionais e internacionais.
Apesar deste reconhecimento do GRAE pela comunidade internacional, o Dr. Savimbi chegara a conclusão que a sua “ presença nas fileiras da UPA-FNLA haveria de traduzir-se na acumulação de sucessivas frustrações, as mais importantes das quais a ausência total de qualquer principio democrático que permitisse o debate dos problemas, a falta de estruturas que garantisse a sequencia das acções e, sobretudo, a falta de vontade por parte da classe dirigente de integrar o “ maquis “ as matas e assim revigorar a luta directa contra o inimigo.”
De facto, as contradicções e divergências de pensamento e de método político que surgiram com a Direcção da UPA, relativamente a condução da luta armada e da luta política levaram o Dr. Savimbi, em 1964, a abandonar essa organização e a fundar a União Nacional para a Independência Total de Angola, a UNITA. Fê-lo com o propósito de se dar um novo rumo e impulso à luta anticolonial, baseando-se em três princípios fundamentais: Direção no interior do país; Contar essencialmente com as suas próprias forças e consciencializar e unir o povo na luta pelas seus direitos inalienáveis.
Ao abandonar a UPA, o Dr. Savimbi sabia dos riscos que corria, das dificuldades que iria encontrar, das desilusões que o esperavam, mas fê-lo com a consciência e a determinação inabalável de poder contribuir para a libertação da Pátria. Na procura de ajuda internacional, o Dr. Savimbi foi aconselhado pelo Presidente Nasser, do Egipto, a contactar os soviéticos em busca de apoios para a luta de libertação.
Com este propósito, e face a recusa da Argélia e da Tanzânia, o Dr. Savimbi deslocou-se a Checoslováquia, a Alemanha Oriental, a Hungria e a própria União Soviética, de onde regressou sem a satisfação dos seus objectivos. De facto, a filosofia da União Soviética não correspondia ao modelo que o Dr. Savimbi pretendia instalar em Angola, no interior do país, habitado fundamentalmente por camponeses.
De regresso ao Cairo, encontrou junto da Embaixada Chinesa compreensão, abertura e apoio para a formação dos primeiros quadros militares da UNITA, na China, entre os quais o nosso MV Chiwale. Logo após a conclusão da sua formação militar, o primeiros doze quadros políticos e militares regressaram ao país, fixando-se no interior do território nacional, onde passaram a dirigir a luta armada anticolonial, juntamente o Dr. Savimbi. Estávamos no ano de 1965.
Prezados convidados
A UNITA foi fundada a 13 de Março de 1966, em Muangai, na província do Moxico. Foi decidido, de imediato que apesar da luta ser conduzida do interior do país, contando essencialmente com as suas próprias forças, alguns dos quadros ficariam no exterior, buscando apoios e representando do Movimento em algumas capitais europeias e africanas. Multiplicaram-se, assim, os esforços da UNITA no Exterior contribuindo para o seu reconhecimento o que permitiu que levasse jornalistas para visitar as zonas do interior do país sob seu controle.
Integraram, nessa altura, como representantes da UNITA e do seu Presidente no exterior, jovens quadros, bastante dinâmicos, como Tony da Costa Fernandes, Jorge Sangumba, Ernesto Joaquim Mulato e António Vakulukuta. Por conseguinte, criou-se a UNITA como a única organização nacionalista, angolana, cujos dirigentes máximos, na sua totalidade, fizeram a luta ao lado dos soldados, na matas.
A Revolução dos Cravos em Portugal. Alvor e o Governo de Transição
Senhoras e senhores
No dia 25 de Abril de 1974 ocorreu em Portugal um Golpe de Estado, conhecido por Revolução dos Cravos, realizado pelo Movimento das Forças Armadas ( MFA ). Derrubado o sistema de Salazar, um dos objectivos do programa do MFA era o de encontrar uma solução política para a guerra colonial.
Nessa altura, o Dr. Savimbi era o único dirigente dos movimentos de libertação nacional que se encontrava no interior do país. Viu-se, nessas circunstâncias, obrigado a deslocar-se ao exterior para estabelecer com os Presidentes Holden Roberto e Agostinho Neto uma plataforma de cooperação, diante da caótica situação político militar que criava um ambiente de incertezas e desordem. Acreditando na força da diplomacia, como instrumento para a resolução de conflitos, o Dr. Savimbi assinou aos 25 de Novembro de 1974, em Kinshasa-Zaire, uma plataforma de cooperação com o Presidente Holden Roberto. Aos 18 de Dezembro de 1974, assinou com o Presidente Agostinho Neto também uma plataforma de cooperação, visando estabelecer uma frente comum para negociar com Portugal.
De facto, no período de junho de 1974 a 11 de Novembro de 1975, foram várias as iniciativas diplomáticas do Dr. Savimbi, orientadas na busca permanente da cooperação e procura de compromissos face a deterioração da situação política e militar que o país conhecia. No quadro desses esforços diplomáticos, o Dr. Savimbi promoveu, de 3 a 5 de Janeiro de 1975, a conferencia de Mombaça no Quénia em que participaram os líderes dos três movimentos de libertação de Angola, onde concordaram o estabelecimento de uma plataforma comum de entendimento e cooperação para as negociações com o governo Português, na qualidade de potencia descolonizadora. Nessa cimeira, os três líderes comprometeram-se, assim, formar um governo de transição, trabalhando com o governo português até a proclamação da independência de Angola.
A 15 de Janeiro de 1975, os três líderes dos movimentos de libertação de Angola e o governo português assinaram formalmente os Acordos de Alvor em Portugal. E o governo de transição tomou posse a 31 de Janeiro de 1975 e as eleições ficaram marcadas para Outubro do mesmo ano e a declaração da independência para 11 de Novembro de 1975.
Apesar de todo o esforço diplomático envidado pelo Dr. Savimbi, muito cedo o MPLA iniciou a inviabilização da aplicação dos acordos de Alvor através de acções militares que realizou em quase todo o país. Mesmo assim, o Presidente da UNITA, numa tentativa de salva-los, promoveu a cimeira de Nakuru, a 16 de Junho de 1975, no Quénia, entre os dirigentes dos três movimentos de libertação para se restabelecer a paz, antes da data da independência nacional.
Mas foram esforços em vão. O MPLA violou sistematicamente os Acordos de Alvor. Autoproclamou-se único representante do povo angolano. A 11 de Novembro de 1975, o Presidente Agostinho Neto proclamou a independência de Angola em nome do Comité Central do MPLA e não do povo de Angola, excluindo os outros movimentos de libertação, mergulhando o país numa crise sem precedentes. A guerra tinha assumido novas proporções e o MPLA com apoio de soldados cubanos acabaram por expulsar a UNITA e a FNLA da cidade de Luanda.
Perante esta situação, o Dr. Savimbi, na vanguarda dos destinos da UNITA, apelou ao povo angolano à uma resistência popular generalizada contra o sistema mono-partidário implantado em Angola pelo MPLA, com apoio do social imperialismo russo e cubano. Durante 16 anos, o Dr. Savimbi dirigiu a luta de resistência contra o expansionismo russo –cubano e o nono-partidarismo implantado em Angola, até a assinatura dos Acordos de Bicesse, em Maio de 1991.
Durante esse período, angariou importantes apoios diplomáticos junto de muitos países ocidentais e africanos. Procurou sempre por vias de dialogo para solucionar os vários conflitos em Angola, antes e depois da proclamação da independência, a 11 de Novembro de 1975. Tinha uma visão clara da complexidade e da dinâmica da sociedade angolana.
Termino a minha apresentação, agradecendo, uma vez mais a atenção que me dispensaram, citando o Dr. Savimbi que dizia que “ olhando para o caminho percorrido, apesar de lacunas, podemos sentir que conseguimos construir a esperança nos corações de todos os angolanos oprimidos.” Uma reflexão muito actual para os dias de hoje em que vislumbramos com maior intensidade, com maior clareza, no fundo do túnel, a luz da vitória. Muito obrigado pela vossa atenção.
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