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A MINA NO MUIÉ E A PONTE DO CUSSIVI


Na última parte da “Comissão”, o Batalhão, já com base em CATETE e arredores (Quifangondo/Catete/Calomboloca/Barraca), tinha também por missão o apoio à Companhia independente sedeada na Muxima, na altura comandada pelo Capitão Novo.

Periodicamente, quase sempre às 6ªs feiras, deslocavam-se àquela localidade histórica situada nas margens do Rio Quanza do lado da Reserva da Quiçama, alguns elementos especializados como o médico, enfermeiro, barbeiro, fotocine, etc., como forma de apoio aos militares e populações.

Desta vez a viagem foi feita com a subida do rio num barco de fibra com motor fora de borda a partir de Cabala onde a estrada Catete/Muxima atravessava o Quanza em jangada.

No barco, habitualmente como medida de precaução seguiam dois motores de 50 cv, um em efectivo serviço e outro como reserva. Desta vez porém, para aliviar a carga , foi decidido deixar um motor na base.

Além do material fotocine, outros abastecimentos, os motores, o Dr Hasse com os seus 100 quilitos, o Canhoto, os Alf Reis e Regalo, o Carvoeiro, o enfermeiro e o barbeiro da CCS.

« Não disse Fernando Pessoa “Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor.”… E passámos… – encalhámos! »

Ora o combustível não é elástico e com o vai e vem e o esforço da subida contra a corrente viriam a dar mau resultado. A meio caminho, um atascanço num banco de areia, e as tentativas para dali sair, fizeram com que se tenha esgotado a gasolina.

Ficámos pois numa situação difícil, sem rádio, nem mapa, no Rio Quanza, no meio da Reserva da Quiçama, era preciso fazer qualquer coisa antes do anoitecer.

Resolveu-se tirar à sorte, para saber quem ia chegar a Muxima a pé pela mata a fim de obter ajuda trazendo gasolina ou outro bote para puxar aquele.

Entretanto, houve um alferes que caiu dentro de agua, porque saltou para o lado errado do banco de areia e caiu para fora de pé mas tudo se compôs e os sorteados, lá foram para tentar a tal ajuda.

Ficamos como é obvio no barco a espera da dita ajuda, mas o tempo foi-se passando e nada de ajuda. Estava-mos a ficar desesperados sem qualquer contacto com o grupo que saiu ou com o Quartel.

O coração começou entretanto a bater quando olhámos para o rio na nossa frente estava um bicharoco com um tamanho considerável. Para jacaré era grande de mais, por isso eu sempre pensei que era um crocodilo.

Ficamos apreensivos e com os olhos bem abertos, não fosse o bicho lembrar-se de nos vir fazer uma visita olhos nos olhos e, para desfazer duvidas, resolvemos puxar da G3 e ele lá percebeu que não era bem vindo, seguiu a sua vida para nosso alívio.

Desta estávamos safos…!!! Agora, …..continuávamos a ver o tempo passar e nada de combustível e sujeitos a novos “encontros imediatos” com elementos indesejáveis.

No meio do silêncio, começamos a ouvir vozes, e descansamos quando vimos o grupo dos alferes, que tinham ido a procura de ajuda, mas… afinal a caminhada tinha sido infrutífera pois não havendo trilhos, com mata cerrada, daí a pouco estavam novamente no mesmo local.

Havia que mudar de estratégia, e foi decidido subir o rio pela margem, sempre com a água à vista por haver um vago conhecimento de uma fazenda agrícola de um colono branco algures mais acima.

Com mais algumas horas de espera, vimos surgir finalmente um bote civil, com o desejado apoio, o Sr Francisco fazendeiro, disponibilizou-nos a gasolina necessária, e lá continuámos com um sorriso nos lábios a subida do rio Quanza até à Muxima.

A caminho da MUXIMA – A NOVA REALIDADE.

« E disse ainda Fernando Pessoa – “O porto sempre por achar.” … Mas achámos! »

Logo que chegámos já com o dia a cair, procedeu-se à consulta médica e de enfermagem, e à noite foi feita a projecção do filme “E tudo o Vento levou” numa sessão aberta à população local.

Antes da dormida no Quartel local, o Canhoto ainda se “desenfiou” para um petisco de Cacusos grelhados e umas valentes “Cucas” em parceria com o pessoal das transmissões.

Ao amanhecer foi a viagem de regresso à base, já a favor da corrente e que decorreu sem incidentes.

Foi um dia para não esquecer!!!

Presentes nesta operação : Alferes Regalo, Dr. Hasse Ferreira, Alferes Reis, Carlos Canhoto (Rádio-montador), no papel de Fotocine, o Carvoeiro, o Aiveca e ainda o barbeiro da CCS …..(??)

Carlos Canhoto – ex-1º Cabo Rádio-montador.

No local onde antes estava uma ‘Jangada’, em Cabala, que dava continuidade à estrada, está agora uma sólida ponte, curiosamente construída pela empresa portuguesa ‘Teixeira Duarte’. Outra curiosidade - os mergulhadores que trabalharam no projecto tiveram de o fazer dentro de ‘gaiolas protectoras’, face à existência de muitos jacarés no rio Quanza.

A nova realidade da Muxima torna desnecessários os ‘arroubos aventureiros’ a quaisquer ‘novos navegadores’...

Esta nova realidade, no entanto, também nos é devida, já que o país que emergiu com personalidade jurídica e constitucional próprias, República Popular de Angola é, ele mesmo, consequência da guerra em que interviemos (Batalhão de Cavalaria 2899 - «ÁS de ESPADAS»), enquanto aquele território foi possessão ultramarina de Portugal.

(José Reis / Helder Santos Pinheiro)

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